No Brasil, a falta de regramento é um problema atávico, transmitido de geração a geração de empresários que julgam, equivocadamente, que ter protocolos significa investir em burocracia.
É preciso não confundir.
Protocolo é o que determina a qualidade, a profundidade e a clareza nas operações de uma companhia ou governo: é o sistema disciplinado de comunicações que regra, alerta e sistematiza processos, elevando consideravelmente a margem de acerto, das atividades corriqueiras às mais complexas.
O protocolo é uma forma de educação do cérebro que, posto a funcionar em modo de atenção, passa a enxergar procedimentos como algo em prol do objetivo coletivo.
Um exemplo comum de falta de protocolo em nosso país? É comum uma empresa encomendar uma proposta comercial a mais de um fornecedor, ciente de que apenas um deles será eleito para o desenvolvimento dos serviços e, após a tomada de decisão, simplesmente não comunicar aos que não se qualificaram o motivo pelo qual não obtiveram êxito.
Esse exemplo ilustra como a miopia empresarial impede gerar dados para o aprimoramento da cadeia de serviços. A comunicação direta e protocolar aos fornecedores preteridos os conduzirá à reflexão estratégica, permitindo que se envolvam com as razões da perda do contrato, invistam em seus pontos de força, de modo a oferecer serviços melhores e em condições mais adequadas àquelas que o mercado espera.
A falta de protocolo é responsável, segundo dados do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade, do IPEA, por mais de 43% do volume de retrabalho de uma indústria de base, como a de embalagens, por exemplo.
Significa dizer que em uma planta industrial de médio porte, com investimento multimilionário em instalações, em equipamentos de tecnologia, com produção implantada em três turnos e operando em ritmo de economia ativa, há perdas de faturamento recorrentes pela falta de adoção de protocolos quanto ao modus operandi do maquinário, gestão de estoque e almoxarifado, gestão humana, embalagem e comercialização.
A empresa está contaminada desde a primeira hora útil do dia.
A adoção de regras disciplinadas é o que nos ensina a ter com nossas empresas uma relação mais persistente, auxiliando aos empresários a compreender que é a operacionalização adequada que conduz ao reposicionamento e à ressignificação corporativa, aspectos fundamentais para manter as companhias atualizadas em tempos de alta velocidade e grande precisão.
Para os funcionários, o regramento de atividades ajuda a manter, entre outros aspectos, a concentração, além de combater um dos maiores males laborais contemporâneos: a ansiedade, origem da Síndrome de Burnout. Amparado por normas e treinamento constante, o trabalhador sabe que terá como agir de modo menos tenso.
Empresas com adoção de políticas protocolares são polidas, admiradas e respeitadas por seu posicionamento sólido e pela capacidade de antever riscos em vários níveis.
Esses são atributos que se transferem para a marca, resultando em maior valor percebido.
Ainda que não perceba, o mercado de consumo premia a disciplina corporativa com elevada saudação. Nasce desse reconhecimento a lista das empresas mais admiradas em nosso país.
O protocolo, como diz o filósofo e professor Mário Sergio Cortella, é decisivo na vida. E foi a adoção de regras e prescrições corajosas, objetivas e firmes, pelo SUS, que reverteram os números alarmantes da maior crise sanitária dos últimos cinquenta anos no Brasil, positivando o combate pela vida!
Batalha para a qual estávamos sem o amparo de um governo que desconhece regras, etiquetas e disciplina.
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