Boa parte do que temos hoje em termos de parque industrial, que deveria incorporar o fomento da riqueza nacional, é rastro do passado.
Nossa incapacidade de renovação tem origens em uma era turva, ainda na época da pré-república. Pedro segundo, um visionário de alma empreendedora tirou o país da inércia a que fora submetido pelo modelo extrativista português (que não considerou o potencial produtivo de nossa gente) e, assim, desenvolveu um modo de pensar coletivo voltado para a criação de “inventos“ de uso comercial e de aceitação em larga escala, tal qual países europeus mais avançados.
Mas Pedro, um amante das tecnologias tanto quando da inovação, caiu. E com ele saiu de cena o pensamento progressista legítimo, dando lugar à prática da política de alcova.
E vivemos na alcova desde então. Nosso modelo de administração pública é medíocre e calcado puramente nas raízes do safardanismo. Somos administrados por inaptos, inábeis e corruptos, interessados em si mais do que no sucesso da nação grandiosa que somos.
Esses senhores não se interessam por entrar para os livros de história como estadistas sensatos e se vendem com facilidade tanto por esmolas rachadinhas quanto pelas facilidades no oferecimento de contratos viciados para empreiteiras.
Ao se venderem por nada arrebatam nosso direito a um futuro melhor, criando as condições para que haja sério enrijecimento nas engrenagens produtivas, o envelhecimento precoce dos parques industriais e fraturas nos processos que determinam a evolução: gestão, ciência e pesquisa.
Nos mantivemos relativamente altivos pelas mãos da produção agrícola, mesmo durante a pandemia e nos orgulha termos esse setor da economia bastante desenvolvido. No entanto, viver do agronegócio é fazer exatamente o que o mundo espera que façamos, abrindo mão de produzir e, naturalmente, de competirmos em nível universal.
Estando felizes por receber o pagamento por commodities, deixamos de fabricar e nos tornamos reféns das maiores marcas do planeta. Recebemos pelo primário e investimos inúmeras vezes mais em produtos elaborados, mesmo que manufaturados, o que é um contraste no mínimo intrigante, pois é daqui que saem alguns dos aviões mais modernos de todo o globo, por exemplo.
Segundo estudos da New York Life Investments, realizados em 2019, o parque fabril brasileiro, até então, havia encolhido mais de 13% desde 2015. Perdemos músculo produtivo em velocidade e ao deixarmos de lado a tríade das reformas fundamentais (econômica, política, tributária,) criamos um processo mortal de paralisação: demitimos ao invés de contratar, compramos ao invés de vender.
Um amigo, professor de economia política da PUC-PR e da UNINTER fez parte da comitiva de recepção a Barack Obama em 2011, quando esse nos visitou em busca do fortalecimento do elo negocial entre o Brasil e os Estados Unidos.
Em visita a fábrica da Ford, teria confidenciado a assessores próximos que o Brasil precisava de um plano sólido de modelagem para a indústria, pois é estratégico nos ter dividindo as negociações, em oposição aos asiáticos. A participação do Brasil no mercado externo fortalece as américas e cria um contrapeso importante no ambiente fabril mundial.
Mas o plano de modelagem para a indústria nacional – se é que há - repousa solene na mesa dos que discutem sobre o quanto o Daniel Silveira feriu a Constituição ou injuriou um judiciário, que por si só é uma ameaça ao bom senso.
Quem de fora nos vê não acredita que percamos tanto tempo e tamanha energia com o trivial.
Seguimos na alcova, sem uma agenda verdadeiramente voltada para a geração de riquezas, de empregos e de patentes intelectuais.
Seguimos matando nossa indústria, iludidos pela colheita sempre farta, mas insuficiente para colocar nosso país entre os mais relevantes, entre os dez mais ricos e socialmente justos, entre aqueles cuja criatividade e capacidade de materialização cria forte blindagem econômica contra a pobreza, a fome e a perda da dignidade humana.
Pedro segundo, se houver um plano metafísico de consciência, deve estar deveras decepcionado.
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